quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

05. Pena




Pena

Eu queria ter-te em mim pelo não estar contigo
Ter-nos em perigo pelo ódio que carrego
E devorar a tua esfinge num banquete sem vestígio
Da besta que em mim habita, teu olhar é nosso elo
Quero ser teu vulto à noite, pesadelo, teu presságio
Quem cruza comigo assim peca em eterno mau-agouro
Eu queria ter teus genes, ter teu sangue, teu abrigo
Eu queria ser teu espelho, ter teu couro-cabeludo
Como a flor que explode tudo e destrói os teus neurônios
Ter vitória e ter seus louros, bomba de destruição em massa
Ser teu erro, tua desgraça, o beijo que te envenena
O verme a roer teu crânio, o pavor que te exaspera
Pudera eu dar-te prova, lambuzar com minha saliva
Com o mais puro óleo de oliva, mostrar-te-ia arder em fogo
A tensão que me acompanha no encordoamento de aço
Lançar-me ao fundo do poço onde enterro os teus ossos

Mas, que pena, não sou nada...
Grão de areia, pé na estrada.
Mas que lástima! Mas que dó!
Sou um violão: vibro, só.

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