quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
04. Filho da Dor
Filho da Dor
Acumulo mil pecados
Pagá-los-ei todos a prazo
Até perder de vista
As dívidas honradas
Algumas coisas são o que são
Algumas coisas são como o céu
Na imensidão azul
Cego de ver o sol
Guardo no pó da estante
Por baixo dos panos quentes
Retratos do que havia antes
Quando ainda mostrava os dentes
Tenho sangue nos olhos
Não posso mais viver de joelhos
Tanta coisa que não escolho
Preciso encarar o espelho
Dentro de mim existe um lugar
Um lugar que existindo
Não deixa de estar
No meu exterior
Eu sou filho da dor
De ferro e fogo fui feito
De amor, agora sou
Pai da Aurora, amor perfeito
Minha mãe é o medo
Eu mamei no seu peito
O meu pai é o ódio
Eu deitei no seu colo
Meu irmão é o escuro
Nós subimos no muro
Do jardim do alpendre
Então, caímos de podres
Do pé de fruta-pão
E da pedra da sota
Por que faço canção?
Será que alguém se importa?
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